Pe. Mário Zuchetto, Sacerdote Estigmatino
Natural de Casa Branca, SP (16.01.1918), de pais agricultores. Comia-se do que se plantava e dos animais criados no sítio. Eram 13 famílias italianas, todas de igual condição. Sábado, o rosário numa casa combinada. Domingo, a missa na cidade.
Um dia perguntei à mãe o que era sacristia. Levou-me para lá, onde encontramos Pe. José Tondin, da Congregação dos Estigmatinos, engenheiro, chamado de Rio Claro, SP., para a restauração da igreja matriz.
Ao saber que mamãe tinha doze filhos, disse-lhe: “com tantos, poderia dar um para Deus”. “Até todos se eles quisessem”, respondeu ela. Voltou-se ele para mim: “você quer ser padre?”. “Quero”, foi a resposta que saiu como um tiro disparado casualmente, sem dar tempo de pensar. Assim entrei no seminário dos estigmatinos em Rio Claro, dirigido pelo Pe. Albino Sella, um verdadeiro pai para quem, durante os doze anos curriculares, naquele tempo, não podia sequer visitar a família.
Fui ordenado aos 04.07.1943. Exerci o ministério em Casa Branca, como vigário e responsável pela casa de formação de nossos Irmãos Coadjutores. Em Rio Claro e Ribeirão Preto como superior do seminário e professor. De 1958 a 1964, provincial, com sede em Rio Claro na primeira gestão; em Campinas, na segunda. Poucos dias depois de feito superior, o primeiro ato foi a escolha da equipe missionária permanente, encabeçada pelo Pe. Antônio Alberto G. Rezende, mais tarde bispo de Caetité, BA. O mais notável trabalho que esse grupo levou a cabo foi missionar a inteira diocese de Jales, SP.
Os estudantes de filosofia e teologia foram transferidos de Ribeirão Preto para Campinas, no novo seminário que o governo anterior deixou quase acabado. Achei uma bênção de Deus o fato de ter pessoalmente encontrado à venda a Chácara do Vovô (Campinas) para nela instalar o noviciado.
Pe. Constantino Tognoni, a quem sucedi na direção da Província estigmatina de Santa Cruz, voltou ao provincialato em 1964 e me pôs à frente do nosso seminário maior. Já em 1967 era provincial Pe. José Luís Nagalli, a quem eu disse: “tenho uma graça a lhe pedir: que eu não seja mais diretor de seminário, nem pároco; deixe-me liberado só para retiros espirituais e Cursilhos de Cristandade”. A resposta foi imediata: “está concedida a graça”.
Era o que eu mais sonhava como seguidor de S. Gaspar Bertoni, fundador dos estigmatinos, que nos queria dedicados a “todo ministério da Palavra de Deus” (Const. 2), convicto de que os retiros espirituais, bem cuidados, colocam mais Cristo no coração das pessoas do que as cátedras de teologia. Dei início ao Encontro de Casais, um retiro com estilo próprio (ainda não era conhecido o “Encontro de Casais com Cristo”, do Pe. Pastore). Em Campinas entreguei-me ao Cursilho, outro tipo de retiro espiritual com eficácia surpreendente e método novo. Em pouco tempo eu tinha todos os fins de semana possíveis tomados por esses compromissos. Nunca me achei tão bem como nesses 35 anos de evangelização intensa. Uma lua-de-mel espiritual. Parece-me que ninguém explanou mais vezes do que eu os dois primeiros capítulos do Gênesis, a Santíssima Trindade, a parábola dos talentos, a Eucaristia como sacramento da Redenção, o matrimônio com o refrão: “não separe o homem o que Deus uniu” (Mt 19,6). Para ter mais tempo, reduzi as férias anuais de um mês para uma semana.
O retiro anual que apresentei aos confrades no bicentenário do nascimento de S. Gaspar (1977) foi publicado com o título de “Espírito de Doação Total”.
A convite de D. Geraldo Valle, bispo estigmatino de Almenara, MG (Vale do Jequitinhonha), levei o Encontro de Casais àquela diocese, onde permaneci dois anos trabalhando principalmente em Joaíma e Felizburgo. Foi um desafio para os meus 65 anos: em duas comunidades rurais só se chegava a cavalo por montes e vales. O contato direto com aquela população sacrificada e pacífica me ensinou mais do que os livros sobre a fé.
Voltei a Campinas. Após um Encontro de Casais em Rio Claro, recebi uma carta discordando do que prego sobre o sofrimento, que apresento como “indústria humana”. A resposta à carta deu o livrinho “Deus quer o sofrimento?”.
Preocupado com a confusão que causam na mente dos católicos os que mentirosamente os tacham de idólatras, lancei o livrinho “Em defesa da fé”.
Estou terminando o “Evangelho Completado”, um estudo frase por frase sobre Mateus, principalmente para reuniões bíblicas.
A chama do entusiasmo acesa na minha ordenação sacerdotal e na primeira missa ainda está acesa. Confesso um defeito: sinto mais sabor e devoção na reza diária do Rosário, em seus quatro ciclos, do que na oração oficial da Liturgia das Horas.
Pe. Mário Zuchetto, css
Campinas, 9.11.2002