Um divisor de águas

Foi isto o que Pe. Mário Zuchetto fez na minha vida!

 

Era o ano de 2001, estava conversando com uma colega de trabalho na hora do intervalo, quando que por impulso, após ouvir um relato intrigante, proferi a seguinte expressão: “Nossa Senhora!”, expressão esta que falamos espontaneamente quase todos os dias.

Para o meu espanto ela respondeu nestes termos: “Nossa não! Sua, pois minha ela não é nada!”

No primeiro momento não entendi o alcance destas palavras, mas depois percebi que a pessoa com quem eu interagia detinha uma grande doze de rejeição a Nossa Senhora. Com o passar do tempo notei que esta rejeição não era somente a Nossa Senhora, mas também à nossa fé católica. Mas por quê?

Em nossas costumeiras conversas, sempre no intervalo do trabalho, os assuntos tornaram-se mais contundente sobre religião, e desta vez, citando trechos da Bíblia, quis mostrar-me que a igreja católica nos induziu ao erro fazendo referência ao uso das imagens, veneração nos santos, etc. Na verdade, pouco era o meu contato com a Bíblia e minha participação nas missas aos finais de semana eram apenas para cumprir com um dever de família, nada mais.

Confesso que a sombra da dúvida começou a pairar sobre minha cabeça, embora, em meu coração, a fé permanecia firme graças aos valores deixados por meus pais. Se não bastasse, ganhei uma Bíblia da edição protestante “Sociedade Bíblica do Brasil”. As críticas e o combate a nossa fé e doutrina católica eram constantes, e o que me deixava mais perplexo, gratuitos. No entanto, dentro de mim havia uma sede insaciável de respostas.

Foi quando me dirigi à Paróquia São Benedito em Campinas-SP. Ali fui recebido por um padre alto, de cabelo grisalho e com um olhar penetrante. Era o  Pe. Mário Zuchetto. Ao começar a narrar os fatos, com tudo, sem me deixar concluir, Pe. Mário me interrompeu como quem já sabia o íntimo do meu coração e disse: “Você balançou!”. _Sim! Respondi com sinceridade. Naquele momento achei que Pe. Mario iria sentar-se comigo de forma acolhedora e explicar, com a Bíblia em mãos as respostas que tanto precisava. Engano! Ele retirou um livrinho debaixo da mesa, entregou-me e disse: “Toma, leia isto e as respostas que você tanto procura serão respondidas! O livro chama-se “Em defesa da fé”.

No primeiro momento fiquei contrariado pois esperava uma atitude mais acolhedora e calorosa, mas, sem perceber, Pe. Mário me deixou o seu primeiro ensinamento: O Espírito Santo não nos oferece seus dons de um dia para o outro, do jeito que nós, em nossa limitação humana buscamos. Pelo contrário, ele fala no silêncio dos nossos corações. Ele o amadurece e o prepara para recebermos Deus, com um coração livre e despojado de conceitos temporais. E foi isto o que aconteceu. Ah se o saudoso Pe. Mário tivesse sentado e me explicado naquele momento tudo o que eu queria! Com certeza as palavras não iriam penetrar de forma tão forte e vigorosa como estão hoje. Depois de muito tempo eu entendi! Querido Pe. Mário, muito obrigado por não se deixar ceder aos meus anseios naquele momento!

Tempos depois, após ler e reler milhares de vezes este maravilhoso trabalho, pasmem, tendo como Bíblia de consulta e reflexão a mesma que ganhei da minha colega protestante, notei que me tornei mais católico do que nunca. Finalmente consegui as respostas que tanto almejava. Mais do que isso, consegui compreender o meu dever na vida como cristão. Como o próprio Pe. Mário ensinou: “Um erro (ou uma mentira) não perdura dois mil anos”. Disse ele em relação a nossa fé católica. Jesus edificou apenas uma Igreja, a sua, tendo como alicerce inicial Simão Pedro. A partir daí, procurei ler e estudar todos os livros e trabalhos publicados pelo Pe. Mário Zuchetto.

Foram poucos os momentos que passei com Pe. Mário, mas estes foram intensos. Todas as vezes que eu o procurava na Paróquia São Benedito para conversar, sempre disponível, característica esta que o marcou profundamente, ele atendia com grande disposição. Era incrível, bastava apenas poucos minutos de conversa com ele, após sair, a sensação era de estar repleto do Espírito Santo, uma vontade imensa de anunciar o evangelho e falar a todos o quanto Deus é bom. Foi com esta inspiração que tive a honra de conduzir a Pastoral da Crisma, na mesma paróquia, entre os anos de 2010 a 2011. Foi incrível, parecia que ele estava sempre por perto. 40 (quarenta) cristãos, jovens e adultos tornaram-se templo do Espírito Santo, graças ao Pe. Mário Zuchetto.

O Pe. Mário se fez presente também nos momentos mais difíceis de nossas vidas, nos momentos que precederam e sucederam o falecimento do meu irmão, conduzindo por duas vezes a contemplação do terço em minha residência. Nesta ocasião comentei com ele que eu havia publicado uma nota no jornal para fazer frente de uma insólida acusação contra a nossa doutrina católica. E para a minha surpresa ele comentou: “Puxa vida, como são as coisas. Eu li este artigo também e desde este dia estava procurando quem era o autor desta nota!”. Deste dia em diante trocamos muitos conhecimentos acerca deste tipo de assunto, inclusive ganhei dele um resumo, feito por ele mesmo, de um livro Chamado “Os Protomártires do Brasil” que narra martírio de católicos no Nordeste Brasileiro no século XVII.

E o que dizer sobre a missa de 7º dia do falecimento do meu irmão. O Pe. Mário utilizou-se das letras do canto de entrada para desenvolver seus ensinamentos. Foi um momento mágico. Ele fez da missa, que poderia ter sido pautada por tristeza, uma celebração de esperança. Definitivamente o Pe. Mário Zuchetto não era deste mundo! Ao final da missa, inclusive, ele comentou: “Não me recordo de ter celebrado uma missa onde 100% dos presentes mantiveram os olhos fixos em mim o tempo todo!”. Claro! O que dizer de um sacerdote que não poucas vezes chagava as lágrimas, no momento da homilia, quando falava de Nossa Senhora? Em uma rara ocasião, caminhando próximo ao Hospital Casa de Saúde de Campinas, de longe vi o Pe. Mário caminhando na praça. Ao me aproximar notei que ele segurava um terço. Ele estava rezando enquanto andava pela praça. Não consegui me conter e disse a ele o quanto estava feliz em tê-lo como sacerdote.

Certo dia, inconformado e preocupado com a onda que tomou conta das pessoas a publicação de uma revista científica, baseada em supostos documentos descobertos por arqueólogos, defendendo a tese de que Judas não traiu Jesus, publicação esta que fez muitos “cristãos” questionarem a veracidade da Bíblia, Pe. Mário Zuchetto publicou no Jornal Correio Popular uma coluna em resposta a este absurdo. Foi brilhante! Pe. Mário provou com dados históricos e raciocínio lógico que não havia a mínima hipótese de Judas não ser considerado traidor de Jesus. O título era “Judas, o traidor“. Lamento muito não ter guardado esta relíquia. Nem o próprio jornal da cidade o possui mais.

Quantas pessoas este homem converteu. Quantos casamentos foram salvos graças e este valioso instrumento divino. Tive a honra de participar do que talvez tenha sido sua ultima celebração eucarística antes de ser internado. Ainda com a voz fraca por conta de complicações pulmonares, falava sobre a importância e o valor de um pai, marcando a seguinte frase: “Para Deus ser pai vale mais do que o próprio exercício do sacerdócio”.

Querido Padre Mário Zuchetto, muito obrigado por tudo! Hoje você está no lugar de onde veio, o céu!

Plínio José Barbosa Junior

Campinas-SP

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